estou só e me perco em pensamentos repetitivos. loops. um vai e vem de perguntas, vícios, desejos, palavras. e não deixo de estar só quando lembro que sou apenas 10% humano. que carrego no corpo fungos, bactérias, vírus. sou unidade e constelação. e fora de mim, dentro desses muros que erguemos para evitar o convívio, para nos proteger do que construímos, estou cercado de história, dos caminhos que deixamos de seguir, das florestas que derrubamos, da vida selvagem que aprisionamos. a domesticação é o ato de controlarmos outras espécies e de nos prender ao chão. as plantas daqui tem raízes encaixotadas. Os bichos são explosões de afeto e propriedade privada. as máquinas, nossas arapucas. e os objetos estão vivos, viraram objetivos. contamino e colonizo tudo. sou feito deles também. vai lá. apresente essas companhias e se misture com elas. troque a pose sedentária, tente ficar offline, regue as plantas, experimente ver as letras borradas, se enrosque. queira o que as propagandas te empurram. se isole e não mude nada. repita mil vezes e nascerão criaturas que te tiram da inércia. faça sem matéria. em vídeo. refaça com matéria. desdobre as caixas. adestre-se. ou tente fugir, correr pra mata. e com uma vela e uma colher faça fuligem. e desenhe com o nanquim brotado das suas queimas e promessas tolas. a solidão é uma impossibilidade inevitável. "a solidão é um sentimento de desconexão com o meio que te cerca. " na morte, terás companhia de larvas ou do fogo. não tem jeito: junte-se. entrelace seu corpo ao outro, seus sonhos ao outro, seu pensamento ao outro. às vezes tento ser atento às vozes. elas se repetem infinitamente para que eu seja leal aos desejos mais absurdos.